Covid pode disparar anticorpos que causam trombose e complicações, diz estudo de SP

Por Portal Opinião Pública 31/08/2023 - 15:35 hs
Foto: Freepik.com / Reprodução

Um estudo realizado pela USP (Universidade de São Paulo) e publicado, na última quinta-feira (24), em uma revista do grupo Nature, revelou que a infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2 pode disparar a produção de autoanticorpos – moléculas relacionadas, entre outros fatores, às doenças autoimunes. O achado explica por que os idosos tendem a ser mais suscetíveis à Covid-19 e o motivo de a forma grave da doença estar relacionada com distúrbios de coagulação sanguínea, como trombose.

A pesquisa foi coordenada por Otávio Cabral-Marques, professor da Faculdade de Medicina da USP, que explicou a importância desta novidade. “A descoberta abre caminho para entendermos uma série de eventos patológicos decorrentes da Covid-19, que vão desde a perda de memória até a morte súbita por trombose de maior dimensão. A hiperinflamação característica da Covid-19 grave e o aumento dos autoanticorpos geram o trombo e, por consequência, a necessidade de reconstruir tecido e de recrutar uma cascata de coagulação. Trombose e inflamação são dois eventos imunológicos intimamente ligados e o nosso estudo é mais um a confirmar essa importante relação”, afirmou Cabral-Marques, que durante o estudo contou com o apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e a colaboração de grupos de pesquisa alemães e norte-americanos.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores analisaram dados referentes a autoanticorpos de 159 pacientes com Covid-19 que apresentavam diferentes graus de gravidade: 71 tinham doença leve, 61 moderada e 27 grave. Também foram analisadas amostras de 73 indivíduos saudáveis, que serviram como controle.

“Ao cruzar os dados por meio de técnicas de inteligência artificial, descobrimos dois autoanticorpos principais que estavam exacerbados nos pacientes com sintomas graves. São justamente os autoanticorpos associados à formação de trombos e trombocitopenia (número reduzido de plaquetas no sangue, condição que aumenta o risco de hemorragia)”, conta Dennyson Leandro M. Fonseca, coautor do artigo.

Estudos anteriores já haviam demonstrado que autoanticorpos neutralizantes de proteínas que integram a primeira linha de defesa antiviral (interferon) estavam presentes na população em geral e cresciam dramaticamente em pacientes idosos com Covid-19. O estudo agora publicado na revista Nature expande a variedade de autoanticorpos associados ao envelhecimento. Além disso, confirma que o impacto dos autoanticorpos varia de acordo com a idade e a gravidade da Covid-19.