Juiz João Veríssimo - Uma trajetória de SUCESSO!
Por Diego Maulana
O juiz de Direito aposentado João Veríssimo é um homem discreto. Caseiro e alheio às badalações, ele sempre preferiu levar a vida de uma forma tranquila ao lado da família. Homem de jeito simples e que preserva o bom trato com qualquer pessoa, traços importantes de sua personalidade, ele dividia seu tempo entre cuidar da esposa Marcia Cristina e dos filhos Gustavo e Giovana, e os momentos de lazer, seja nas viagens em família ou nas pescarias e momentos de lazer com os amigos. E é justamente por ser alguém tão comedido que poucas pessoas conhecem, de fato, a trajetória de SUCESSO que ele trilhou ao longo de seus 59 anos de vida.
Contudo, a serenidade que sempre fez parte de sua vivência tem dado lugar, gradualmente nos últimos meses, a agitação de um novo projeto. João Veríssimo quer ser o próximo prefeito de Mauá.
Pré-candidato ao Paço Municipal, o juiz aposentado decidiu investir de vez em uma carreira política e quer mostrar que a cidade que o acolheu junto de sua família no início da década de 1970, e pela qual ele nutre imenso amor e carinho, pode voltar a ter dias melhores. Motivação não lhe falta e mesmo sendo um novato no meio, Veríssimo acredita que pode contribuir com o município.
E no que depender dele, trabalho não faltará.
Origens, infância e a vida em Mauá
A história de João Veríssimo é semelhante a de muitos migrantes que rumaram do interior paulista e de outros Estados para tentar uma vida melhor na capital. Nascido na Estância Turística de Santa Fé do Sul, cidade localizada no extremo noroeste de São Paulo - a 625 quilômetros da capital – João (o terceiro de sete filhos de Waldemar Fernandes e Celcina Pereira Fernandes) chegou ao lado de sua família no início da década de 1970 à região do Grande ABC. A família Veríssimo mudou-se para Mauá, mais precisamente para o Parque das Américas, um dos maiores bairros do município atualmente. Em 1972, contudo, a situação era diferente. “Era um bairro bastante carente e não era ainda formalizado, as ruas eram todas de terra, não havia esgoto”, recorda-se o juiz aposentado.
Da infância, aliás, João guarda boas recordações. Oriundo de uma família humilde, ele conta que, apesar das dificuldades financeiras, seus pais sempre fizeram de tudo por ele e pelos seus quatro irmãos na época (os dois mais novos foram adotados quando ele já era adulto) sem nunca reclamar de qualquer situação. “Pobreza não foi sinal de tristeza. Eu tive uma infância super feliz. Eu não lembro de um dia sequer de ter ficado triste pelo fato de ser pobre. Eu tenho irmãos espetaculares, que são tudo pra mim, e meus pais eram mais espetaculares ainda. Meu pai é um cara que nunca vi igual, o cara mais sensacional que conheci na vida”, derrete-se ao se lembrar da família.
Além disso, Veríssimo cita que tanto ele quanto seus outros irmãos sempre foram incentivados pelos seus pais a estudar. Da quinta a oitava série, o chamado “Ginásio” na época, João estudou na Escola Estadual Professora Maria Elena Colonia. Já o “Colegial” - hoje Ensino Médio - foi cursado na Escola Estadual Professora Therezinha Sartori, o Viscondão. E esse estímulo deu bons frutos, como ele explica.
“Apesar de ter vindo de uma família muito humilde, nós morávamos em uma casa de dois cômodos em sete pessoas com chão de barro, terra batida, meus pais sempre nos incentivaram nos estudos. Meu pai e minha mãe nunca permitiram que nós parássemos de estudar”.
Assim como muitos jovens da época, João Veríssimo também começou a trabalhar cedo. Em 1975, aos 14 anos, ele conseguiu um emprego de office boy na metalúrgica Brooklin Alpont, no Jardim Capuava, graças a um amigo. Foram quatro anos de muito aprendizado para ele, que saiu da empresa somente em 1979, quando já ocupava o cargo de auxiliar de contabilidade, após ser aprovado no concurso para escrevente do Fórum Municipal. No mesmo ano, ele concluiu o ensino médio e ingressaria na Faculdade de Direito. Iniciava-se ali sua jornada no setor judiciário.
A escolha pelo curso de Direito, segundo João, surgiu em meio ao seu último ano na escola, graças ao seu amigo Carlos Eduardo Modonezi, que não apenas o convenceu, mas também o presenteou com três livros: o Código Civil Brasileiro, o Código Comercial Brasileiro e a Consolidação das Leis de trabalho. O juiz aposentado guarda os volumes até hoje. Conciliar o trabalho com os estudos, entretanto, não foi tarefa fácil, bem como não era simples arcar com as mensalidades, o que também gerava situações inusitadas.
“Naquela época, quem não pagava não sabia das suas notas. Então, você ficava o ano todo, juntando dinheiro, pegava o 13º salário, emprestado com alguém, ia lá, pagava e recebia as notas. Então, durante o ano, eu fazia as provas sem saber as notas. Ficava no escuro e só sabia se tinha passado ou não no fim do ano. Era assim”, recorda-se João, que se formou em 1983, na UMC (Universidade de Mogi das Cruzes).
Depois de conquistar seu diploma em Direito, Veríssimo seguiu trabalhando no Fórum de Mauá, onde havia entrado em 19 de maio de 1980, como escrevente. Lá, ele ficou por 13 anos, até 1993, quando decidiu prestar concurso para juiz. Aprovado, João deixou o emprego de diretor de Serviços da 3ª Vara, que, na época, englobava as áreas Civil, Criminal e de Juizado de Menores – atualmente Infância e Juventude. Dali em diante, ele deixaria Mauá temporariamente.
O trabalho como juiz
De acordo com João Veríssimo, a decisão de prestar concurso para juiz de Direito foi algo bastante natural e esperada, afinal, ao chegar ao cargo de diretor de Serviços da 3ª Vara em Mauá ele já se encontrava no topo da hierarquia dentro do Fórum. Sendo assim, ele explicou que ou prestava concurso para ser tornar juiz ou permaneceria naquela função permanentemente. A escolha tornou-se óbvia.
“Eu cheguei no último degrau da carreira dentro do Fórum de Mauá, que era diretor de Serviços da 3ª Vara. A partir disso, não tinha outro caminho. Ou prestava concurso para promotor ou para juiz”, revelou João, que foi trabalhar em Minas Gerais. Na época, ele tinha 33 anos. “Trabalhei em várias comarcas, a última foi em Belo Horizonte”.
Sobre a vida como juiz, João Veríssimo não tem reclamações. Muito pelo contrário. Agora aposentado, ele se lembra com bom humor da época. “O juiz, na verdade, é um funcionário público. Não vejo a figura do juiz como algo diferente, sinceramente não vejo. Acorda, trabalha, faz audiência e volta pra casa para dormir”, disse o juiz João que revelou ainda nunca ter se preocupado com ameaças.
Quanto a decisão de se aposentar, após 21 anos de trabalho como juiz, João afirma que foi algo bem pensado. Apesar de ter a chance de se tornar desembargador, o juiz decidiu retornar à Mauá para passar mais tempo ao lado da esposa Marcia Cristina Pereira Fernandes, com quem é casado desde 1994 – se conheceram quando ambos trabalhavam no Fórum de Mauá –, da filha Giovana, de 12 anos, e do filho Gustavo, 19, que sempre moraram na cidade. “Eu sempre fui muito família e muito Mauá. Então, se fosse ficar lá para ganhar 5% a mais (como desembargador) não valeria a pena. Se eu fosse advogar, até ganharia mais. Claro que é um belo cargo. Uma coisa é ser juiz, outra é ser desembargador. Mas, mesmo assim, resolvi voltar”, afirmou João, que tem um lado bem caseiro também.
“Eu gosto muito de ficar em casa, sou muito caseiro. Quando não estou em casa, gosto de fazer churrasco ou pescar. É o que mais gosto de fazer. Tenho uma vida tranquila. Como comecei a advogar, não me sobrava muito tempo. Mas, consigo conciliar tudo”, garante.
João, o pré-candidato
Com quase uma vida inteira ligada ao sistema judiciário, João Veríssimo nunca havia se envolvido diretamente na política. Porém, o que muitos não sabem é que ele sempre participou de alguma forma da vida pública com a sua família. Sua mãe, Celcina Pereira Fernandes, foi eleita vereadora em Mauá e exerceu mandato na Casa de Leis da cidade entre 1983 e 1988.
Essa distância pessoal do João com a política, no entanto, foi diminuindo no último ano, especialmente depois de sua primeira experiência no meio, como secretário de Governo durante o mandato interino da vice-prefeita Alaíde Damo (MDB). João acabou sendo convidado a integrar o governo de Alaíde quando ela assumiu o Paço no lugar de Atila Jacomussi (PSB), afastado devido a sua prisão. Uma vez vivendo nesse novo mundo, Veríssimo passou a compreender melhor como funciona a administração pública e que seria possível contribuir para a cidade de Mauá. Foi a partir daí que ele começou a considerar a possibilidade de se pré-candidatar à Prefeitura nas eleições municipais deste ano, projeto que ele tem levado muito a sério.
O juiz aposentado ainda se considera um novato no meio político e diz estar se adaptando a essa realidade. “É um mundo completamente novo. Muitas coisas eu não estou habituado, muitas coisas eu discordo, tento adaptá-las ao meu jeito”, pontuou o juiz, acrescentando que irá manter-se fiel aos seus princípios. “Mantenho minha integridade e caráter sem mácula. Não abro mão dos princípios que meus pais me ensinaram a vida toda”.
A situação atual de Mauá foi outro ponto abordado por João Veríssimo, que avaliou a pandemia da Covid-19 como um grande problema, principalmente por atingir a economia e causar o aumento nos índices de desemprego na cidade. Além disso, ele não poupou críticas ao atual prefeito e às polêmicas em que ele se envolveu ao longo do mandato.
“Mauá entrou no olho do furacão. Tem a questão da pandemia e as suas consequências, como o desemprego e a irresponsabilidade de um prefeito como o Atila Jacomussi, que já foi preso duas vezes, sofreu busca e apreensão em sua casa três vezes. Mauá está sofrendo demais”, analisou Veríssimo, destacando que é preciso definir quais são as prioridades para o município.
Por fim, o juiz João Veríssimo evita fazer muitos planos para o longo prazo. Sua intenção mesmo é se concentrar no trabalho de agora, sem deixar de lado, é claro, a sua família. “A minha prioridade é ganhar a eleição, cuidar dos meus filhos e da minha família. É isso o que eu quero”.
O dia em que seu pai “roubou” seus amigos
Sempre que se lembra de seu pai, Waldemar Fernandes, o juiz João Veríssimo tem uma boa história para contar, tanto graças ao caráter e boa índole do patriarca da família, quanto por sua personalidade agradável. Uma dessas divertidas anedotas, recordada por João, demonstra o quanto seu pai conseguia catalisar a atenção das pessoas por onde passava.
“Logo que eu passei no concurso para juiz, eu organizava pescarias com juízes, de São Paulo, de Minas Gerais, um grupo com 20, 25 pessoas. Uma vez, resolvi levar meu pai, porque um juiz de Bragança Paulista, o Sérgio, que tinha um pai promotor, sugeriu que levássemos nossos pais e meu pai foi. Nas pescarias seguintes, a primeira pergunta que todos faziam era ‘seu pai vai?’. ‘Só vou se seu pai for’”, conta o juiz João às gargalhadas. “Quase todos os juízes ficaram amigos do meu pai, que era um cara extremamente agradável”.
Racismo
Os seguidos casos de violência contra os negros ao redor do mundo e a intensificação das manifestações por direitos iguais e pelo fim da violência racial, bem como a ascensão do movimento “Vidas Negras Importam”, trazem à tona esse questionamento para o juiz João Veríssimo, um homem negro que nunca se deixou abater por sua condição étnica, mesmo sabendo da existência do preconceito.
“A gente sempre sente, mas sempre encarei isso como um desafio para mim. Você ia a reuniões de juízes e havia pouquíssimos juízes negros. Pouquíssimos é modo de falar, de 100 havia dois, três. Mas, isso nunca me abateu. Eu sou um cara que gosta de desafios. Se eu percebo que isso ocorre, eu levanto a cabeça e vou pra cima, isso não me abate. Na minha sala da faculdade havia também dois, três estudantes negros, pois naquela época era bem raro. Hoje existem mais por conta dos incentivos que o governo dá e que na minha época não existiam”.
O juiz admitiu que um momento forte da presença do preconceito aconteceu durante a juventude. Contudo, ele toma a situação como um aprendizado. “Na vida pessoal, talvez quando você é adolescente e começa a namorar, se interessar por garotas, aí você sente um pouco mais. Mas, isso pra mim foi mais um aprendizado do que um sofrimento”.
Gravada em 10 de julho de 2020, essa entrevista com o juiz João Veríssimo aconteceu horas depois da divulgação de imagens que mostravam um policial militar pisando no pescoço de uma mulher negra de 51 anos de idade, durante uma abordagem. As cenas, gravadas em 30 de maio, percorreram o país e geraram revolta.
“Vi aquela imagem do policial pisando no pescoço de uma mulher de 51 anos. Tem algumas coisas que eu não admito, que eu fico indignado e me fazem até mal. Eu não consigo compreender como um policial, meses depois de o mundo ver manifestações contra o racismo, fazer aquilo. Eu não admito. Já julguei vários casos de racismo e tortura e isso que o policial fez foi tortura, crime imprescritível e inafiançável. Ele tinha de estar preso. É terrível o que está acontecendo no Brasil”.
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