Uso de cigarros eletrônicos pode alterar composição da saliva e aumentar o risco de doenças bucais, mostra estudo

Por Portal Opinião Pública 13/02/2025 - 12:49 hs
Foto: USP - Governo de SP / Divulgação
Uso de cigarros eletrônicos pode alterar composição da saliva e aumentar o risco de doenças bucais, mostra estudo
Estudo avaliou impacto do cigarro eletrônico na saúde de 50 jovens

Um estudo, conduzido pelo Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (ICT-Unesp), apontou que os cigarros eletrônicos – popularmente conhecidos como vapes - podem alterar a composição da saliva de seus usuários, o que aumentaria o risco de doenças bucais, como cáries, lesões da mucosa e doença periodontal. Os resultados da pesquisa, que contou com a colaboração de cientistas das universidades de São Paulo (USP) e de Santiago de Compostela, na Espanha, foram publicados no International Journal of Molecular Sciences, e compõem parte dos resultados obtidos durante o doutorado de Bruna Fernandes do Carmo Carvalho.

Ao todo, os pesquisadores selecionaram 50 jovens sem alterações clínicas visíveis na mucosa oral, com média de idade entre 26 e 27 anos, sendo que 25 deles eram usuários regulares e exclusivos de cigarros eletrônicos há pelo menos seis meses e 25 não usuários para o grupo-controle. Todos forneceram amostras de saliva para análises que incluíram a sialiometria (avaliação da saliva), viscosidade, pH e concentrações de cotinina – um importante biomarcador relacionado à exposição à nicotina. Altas doses dessa substância na saliva, urina ou sangue estão associadas a maiores níveis de dependência. Os voluntários também passaram por análises clínicas, que mediram a frequência cardíaca, a oximetria, a glicemia, a concentração do monóxido de carbono (CO) no ar exalado e o uso de álcool.

Depois das análises da saliva, os pesquisadores constataram alta concentração de cotinina entre os usuários de cigarros eletrônicos. Eles também identificaram a presença de 342 metabólitos salivares (compostos resultantes do metabolismo de substâncias na saliva), mas foram considerados para a análise apenas aqueles encontrados em pelo menos 70% das amostras.

Do total, 101 metabólitos foram incluídos no estudo: 61 eram exclusivos do grupo de usuários, enquanto 40 compostos eram compartilhados entre os dois grupos. A partir de então, sete biomarcadores promissores foram identificados: quatro se mostraram específicos e aumentaram no grupo que usa cigarros eletrônicos (ácido esteárico, ácido elaídico, valina e ácido 3-fenilático) e três foram compartilhados entre os grupos (galactitol, glicerol 2-fosfato e glucono-1,5-lactona).

“A identificação desses metabólitos é importante porque eles podem se tornar potenciais biomarcadores para a detecção precoce de alterações de saúde. Ainda não temos bem estabelecido na literatura científica qual é o impacto dessa alteração na saúde, mas sabemos que está relacionado a questões inflamatórias, metabolismo de substâncias químicas estranhas ao corpo [como drogas ou toxinas] e aos efeitos da queima de biomassa”, explica a cirurgiã-dentista Janete Dias Almeida, professora titular do Departamento de Biociências e Diagnóstico Bucal da Unesp e coordenadora do estudo. Isso significa que vias inflamatórias específicas ligadas à doença periodontal, por exemplo, podem ser induzidas por cigarros eletrônicos.

Os resultados dessas análises foram apresentados durante o 17º Congresso da Sociedad Española de Medicina (Semo) e a 18ª Reunião da Academia Iberoamericana de Patología y Medicina Bucal (AIPMB), realizados em Santiago de Compostela, na Espanha, em 2023, tendo recebido menção honrosa.

Estima-se que ao menos 20% dos jovens adultos brasileiros já tenham usado ao menos uma vez esses aparelhos, inicialmente desenvolvidos com o objetivo de facilitar a cessação do tabagismo. No Brasil, o consumo e a venda de cigarros eletrônicos são proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009.