Dona Vilanir: uma história de vida com referência na fé, na família e na luta por justiça social

Por Portal Opinião Pública 31/10/2024 - 16:14 hs
Foto: Divulgação

Cida Maia - Vereadora em Mauá

Vilanir Gonçalves da Cruz Souza, cearense raiz, filha de Maria e Vital, irmã de Angelina, Adail, Angelita, Anália, Antônio, Alderiza e Adonias, cresceu trabalhando na roça e ajudando sua mãe a lavar roupa. Teve uma infância roubada pela falta de políticas públicas da época. Estudar era um dos seus sonhos, e lá no sertão, na década de 1940 a 1950, se alfabetizar significava percorrer alguns quilômetros pelas veredas, mas as dificuldades a fizeram forte e resistente.

Em 1965, se casou com seu grande amor, meu pai Geraldo Felipe, lá na casinha branca de portas e janelas azuis. Viveram 59 anos juntos, e deste amor nasceram cinco filhos: Sílvia, Fábio, eu (Cida), Fabiano e Aninha, as netas e netos: Letícia, Gustavo, Carolina, Melissa, Lucas, Guilherme, Emanoel, Enrico e a caçula Anne. Chegaram também as bisnetas Laura, Sophia, Elis, Maria Luísa e Heloísa, e o bisneto Benício.

Para que seus filhos pudessem estudar, se mudou do Sítio Açudinho para a cidade. Pelos filhos também voltou a estudar para auxiliar nas atividades escolares, e assim concluiu os anos iniciais do ensino fundamental. Foi uma mãe que zelava com carinho dos filhos, chegando a costurar nossas roupas, sempre com muito capricho. Uma mãe que, na época em que a vacina era de difícil acesso, ela se organizava para ir à cidade vizinha nos levar. Foi esse cuidado que me salvou da poliomielite (paralisia infantil).

Foi uma mulher para além do seu tempo, que entendia que vacina, água tratada, planejamento familiar não eram luxos, eram políticas públicas a serem implementadas e garantidas. Nos ensinou o caminho da fé, e tenho as lembranças dela nos arrumando e nos levando aos sábados à tarde para a missa das crianças. Nos ensinou que errar faz parte da vida, porém quando entendermos que erramos, temos a oportunidade de recomeçar e sermos melhores.

Com ela, os domingos eram sinônimos de casa cheia para almoçar juntos, com todos falando e rindo ao mesmo tempo, e acreditem, ela entendia e prestava atenção em todas as conversas. Tenho dificuldades de imaginar como serão meus domingos sem ela, como serão as noites sem as nossas ligações de vídeo. E o Natal, meu Deus, o Natal. Ela amava participar da montagem da árvore de Natal, pendurar a guirlanda, colocar o pisca-pisca, visitar as decorações natalinas dos shoppings, e a reunião da nossa grande família no dia 24 de dezembro para realizar o amigo secreto, participar da missa, cear e almoçar no dia seguinte eram momentos garantidos. Em resumo, estarmos juntos, fazia parte das coisas que ela gostava.

Sempre foi uma mulher de muita fé! Para ela, a missa era um momento especial, mais que um ritual, era momento de entrega. Com o passar dos anos não conseguia ir com a mesma frequência, passou a assistir pela TV e a rezar o terço deitadinha na rede, se balançando. Uma rotina de fé que a fortaleceu ao longo dos seus 83 anos. E quis Deus que ela partisse em 28 de outubro, o mesmo dia em que nasceu, dia de São Judas Tadeu. Para ela comemorar seu aniversário era algo esperado, a maior celebração era participar da Missa de São Judas na capela no Jardim Zaíra.

Entre seus maiores ensinamentos, sempre deixou claro que não podemos nos calar diante das injustiças sociais. Ao seu lado, cresci participando de reuniões comunitárias, de passeatas contra o aumento da passagem, na luta por asfalto, iluminação pública, e assim ela foi para minha vida um verdadeiro exemplo de luta. Para ela, votar era um grandioso momento da festa da democracia, e como ela mesmo dizia: voto desde os meus 18 anos e votarei até enquanto eu puder. E assim completou seu ciclo com louvor, deixando para além da saudade seu exemplo de uma vida simples, honesta, dedicada à família, à fé e a construção de um mundo menos desigual.

Mamãe, gratidão por tudo!