Editorial – Prevenção à catástrofes
Neste espaço já foram publicados, em outras oportunidades,
alguns textos que serviam de alerta sobre as consequências preocupantes que as
mudanças climáticas poderiam trazer para todos nós de uma maneira geral. Pois
bem. Agora, assistimos com imensa tristeza o desastre que abate o Rio Grande do
Sul.
Os números que ilustram o quão grave é a tragédia gaúcha
impressionam: mais de 400 municípios foram afetados pelas chuvas; mais de dois
milhões de pessoas foram diretamente prejudicadas pelas tempestades, sendo que
mais de 500 mil habitantes estão desalojados e quase 80 mil foram para abrigos;
além disso, 149 pessoas perderam a vida, enquanto ainda há 112 desaparecidos e
mais de 800 feridos.
A capital, Porto Alegre, ainda tem muitos bairros embaixo
d’água, como consequência do transbordamento do Rio Guaíba, o principal do
estado. A situação foi tão grave que o atual alagamento superou o ocorrido em
1941 e que era tido como o maior da história do Rio Grande do Sul. Outras
cidades, como Caxias do Sul, Gramado, Canoas, Novo Hamburgo, Pelotas, Santa
Maria, São Leopoldo e muitas outras, também tiveram grandes perdas.
O fato é que, ainda sendo este um evento extremo, duas
coisas precisam ficar bem pontuadas: a primeira é a necessidade de se investir
em prevenção. Segundo reportagem do portal UOL, na última semana, a capital
Porto Alegre não investiu nada em prevenção às chuvas em 2023, ao contrário dos
dois anos anteriores. Aliás, houve uma queda acentuada na destinação de verbas
para o setor de 2021 (R$ 1,7 milhão), para os dois anos seguintes, 2022 (R$ 141
mil) e 2023 (R$ 0).
Ou seja, em muitos casos não há um plano preventivo para
evitar ou ao menos amenizar esse tipo de situação. Se houvesse uma cultura de
agir antes de um problema ao invés de depois, talvez hoje estivéssemos ainda
falando de uma tragédia no estado, mas em uma proporção menor, onde menos vidas
fossem afetadas.
E o segundo ponto é que as bruscas mudanças climáticas que
estamos vivenciando são causadas por ação do homem. São tantas interferências
na natureza, que não há como não haver consequências graves, como estamos
vendo. Contudo, muito pouco é feito com intuito de parar essas intervenções,
sendo que há ainda uma ala que nega esses fatos.
Já vimos nos anos recentes catástrofes semelhantes em Minas
Gerais, na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Santa Catarina, no
Tocantins, mas nada muda. Só muda, a verdade, o endereço das tragédias.
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