Nossa Mauá ontem e hoje
22 de novembro de 1953: os 70 anos da data que elevou Mauá à condição de município
Por Daniel Alcarria - Jornalista, historiador, membro do Memofut (Grupo Literatura e Memória do Futebol Brasileiro). Autor do Almanaque do Futebol de Ribeirão Pires e do Almanaque Histórico do Grêmio Esportivo Mauaense. É atualmente secretário-adjunto de Esportes e Lazer da Prefeitura de Mauá.
Nome de uma das principais praças
localizadas no centro da cidade, talvez poucos habitantes de Mauá tenham
conhecimento da importância do dia 22 de novembro para o município. Foi nesta
data que o povo do então distrito (Mauá era uma espécie de ‘bairro’ de Santo
André) foi às urnas para decidir, através de escrutínio, seu destino enquanto
território independente. Naquele distante 22 de novembro de 1953, domingo, 658
eleitores disseram ‘Sim’ à emancipação, sete votaram contra e foram registrados
apenas cinco votos considerados nulos e em branco.
As manifestações
emancipacionistas já eram sentidas por Mauá desde o início dos anos 40, quando
impulsionadas por movimentos vitoriosos em São Bernardo do Campo (1944) e São
Caetano do Sul (1948), viu crescer na sociedade local um desejo cada vez mais
efetivo pela separação junto a Santo André. Curiosamente, as ações de Mauá
também estimularam a vizinha Ribeirão Pires por sua independência, cujo
plebiscito também ocorrera na mesma data que o de Mauá.
Antecedentes da emancipação
Com o crescente desejo
emancipacionista tomando corpo, surgiram no período dois importantes
instrumentos para o fortalecimento da causa: a Sociedade Amigos do Distrito de
Mauá e o jornal Folha de Mauá. A primeira reunia parte da população e agregava
as principais lideranças autonomistas, dentre eles destacados jornalistas,
advogados, empresários, desportistas e claro, políticos. Fundada no ano de 1946
(em data não conhecida), a Sociedade Amigos do Distrito de Mauá tinha como
objetivo primeiro a ‘defesa dos interesses do Distrito em geral e dos seus
habitantes em particular’.
A entidade não tinha, portanto,
como causa principal, a emancipação do distrito, apenas lutar por melhorias no
território local, como calçamentos, iluminação pública, aumento das linhas de
ônibus, diminuição dos intervalos dos trens vindos de São Paulo entre outras
reivindicações menores. Mesmo sem deixar transparecer seus objetivos, a
Sociedade Amigos do Distrito de Mauá teve importância fundamental para o êxito
da emancipação.
Outro elemento catalisador do
movimento pela independência do distrito foi o jornal ‘Folha de Mauá’,
justamente o órgão informativo da Sociedade Amigos. Considerado o pioneiro
jornal local, o folhetim era distribuído gratuitamente a cada 15 dias e seu
surgimento teria ocorrido no interior da fábrica de cerâmicas Cerqueira Leite.
A data provável da fundação do periódico foi 1949 e funcionou como uma ‘voz’
das reivindicações de Mauá, sendo o jornal decisivo para a vitória do movimento
emancipacionista.
O jornal tinha como proprietário
e diretor Anselmo Haraldt Walendy, um ativo membro da
Comissão Pró-Emancipação, criada em outubro de 1951. O grupo teve Egmont
Fink como seu presidente e Manoel Pedro Júnior, vice. Os demais participantes
da Comissão Pró-Emancipação de Mauá foram José Figueiredo, Ariocy Rodrigues
Costa, Rinaldo Chiarotto, Tercilio Tamagnini, Harry Horst Walendy, Emílio
Romeu, Inocêncio Pedro, Sokiti Nakandakare, Orlando Cirilo, Francisco Lopes
Gimenes, Anselmo Walendy, André Binoto, Nélson Chiarotto, Leopoldo Mantovani,
Rubens Durval Antico, Luiz Novi e Norival Alves dos Santos.
Emancipação e instalação do
município
Após intensa mobilização popular e o
crescente fortalecimento da causa, enfim o distrito, através da Comissão
Pró-Emancipação de Mauá, faz chegar representação documentada à Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo, solicitando a realização de um plebiscito.
O pedido foi entregue em 30 de abril de 1953, sendo aprovado pelos deputados
estaduais, que também definiram a data para a realização do sufrágio
emancipatório.
A luta final pela emancipação
durou mais algum tempo após o dia 22 de novembro de 1953. A oficialização do
ato bem como a homologação do plebiscito se deu através da promulgação da Lei
2.456, de 30 de dezembro de 1953, que elevou oficialmente Mauá a condição de
município autônomo. Por sua vez, a instalação oficial da cidade se deu em 1º de
janeiro de 1955, quando foram empossados Ennio Brancalion e Elio Bernardi
(respectivamente prefeito e vice) e mais 13 vereadores, tendo o ex-soldado
constitucionalista de 32, Jorge Paschoalick, como o primeiro presidente do
legislativo.
A data em que o município de Mauá
comemora seu aniversário (8 de dezembro) foi consagrada, mesmo antes de sua
autonomia, como uma homenagem à padroeira católica da cidade, Nossa Senhora da
Imaculada Conceição. Mas o 22 de novembro certamente é a data mais significativa
para a existência autônoma deste grande município que, infelizmente, pouco (ou
quase nada) cultua em homenagem a tal grande fato e seus idealizadores.
“Cidadãos de comunidades
que já usufruem as vantagens de uma autonomia raramente têm a oportunidade de
compulsar ou avaliar o quanto representa essa liberdade para os seus
conterrâneos. A liberdade é um bem imaterial que só pode ser medido com sua
própria medida; não a medimos em litros ou em quilos e não há vasilha capaz de
a conter. Em geral, somente a ausência de liberdade é que nos permite avaliar o
seu valor. Pôde o povo desta terra ver realizado o seu sonho”.
Egmont Fink – Presidente da Comissão Pró-Emancipação de Mauá
Bibliografia consultada
FOLHA DE MAUÁ. Mauá: Sociedade
Amigos do Distrito de Mauá, [nºs Diversos 1949-1969]-, Quinzenal.
MÉDICI, Ademir. De Pilar a Mauá.
Mauá: Prefeitura de Mauá - Fundo de Apoio a Cultura, 1986.
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