Estatística que entristece

Por Portal Opinião Pública 21/05/2020 - 10:41 hs
Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal

João Pedro tinha 14 anos e, provavelmente, era um menino cheio de sonhos. Não o conhecia, assim como a maior parte das pessoas que ficaram horrorizadas com a forma com que ele foi morto também não. Porém, talvez um de seus sonhos fosse deixar o Complexo do Salgueiro, comunidade onde morava com a família, para viver em um local longe da violência. Seu pai, Neilton, contou que o desejo do filho era cursar Direito. Mas ele não teve essa chance.

Sua morte precoce, dentro da casa de um tio enquanto brincava com primos e amigos, choca. E torna-se ainda mais chocante quando as versões contrastantes sobre o que teria acontecido para que o garoto tivesse sua vida ceifada. De um lado, as Polícias Federal e Civil do Rio de Janeiro afirmam que houve troca de tiros entre policiais e traficantes da região, que teriam pulado o muro da casa durante a fuga. O tiro que acertou o garoto teria sido proveniente desse confronto. Do outro, a família contesta a versão, dizendo que os policiais invadiram a casa atirando, ainda que os adolescentes dissessem que só havia crianças na casa. Além disso, há o fato de que o corpo de João Pedro foi levado do local e encontrado somente no dia seguinte, já no IML.

Porém, ao testemunharmos outra triste notícia da morte de um jovem inocente, nos entristecemos ainda mais por saber que ela não será a última. João Pedro virou estatística e, infelizmente, sua morte só não será esquecida por familiares e amigos. Assim como outras já ocorridas nos últimos tempos – muitas as quais sequer ficamos sabendo – e outras que ainda acontecerão, seja por conta da criminalidade, tão prejudicial à sociedade, seja por conta de ações desastradas do Estado.

A morte de inocentes deveria servir de exemplo para que casos semelhantes não sigam acontecendo. No entanto, elas se tornam simples dados sem que qualquer resolução ocorra. E quem paga é a sociedade que nunca tem paz.