Escola da família: gasto desnecessário ou investimento social?

Por Portal Opinião Pública 19/03/2020 - 10:04 hs
Foto: Divulgação

 

Sou o Prof. Edmauro, educador profissional do Programa Escola da Família há 15 anos, professor da Rede Estadual há 22 anos. Venho de uma família de poucos recursos e, como muitos, brincava na rua jogando bola, soltando pipa, com pião e bolinhas de gude. Hoje, os altos índices de violência não permitem essas oportunidades às nossas crianças. Como sabemos, as cidades têm áreas públicas de lazer, mas, essas concentram-se nos bairros centrais onde moram as famílias que têm uma situação econômica um pouco melhor.

Na periferia, há poucos equipamentos que ofereçam esporte, cultura e lazer. Portanto, aproveitar o que está disponível é imprescindível. Todos os bairros têm escolas. Essas escolas têm quadras esportivas e áreas grandes como pátios. Manter esses espaços abertos aos finais de semana é uma opção para driblar a falta de equipamentos esportivos e de lazer nas regiões periféricas. A criança que utiliza a escola para atividades esportivas e culturais, orientada por profissionais, está segura e mantém sua cabeça ocupada com atividades lúdicas, agradáveis e que contribuem para seu desenvolvimento. Essas crianças aprendem mais sobre si e desenvolvem seus talentos; aprendem a conviver com o outro por meio de atividades em grupo, aprendem sobre o respeito, cidadania e ampliam seus conhecimentos culturais.

Essa é a missão da Escola da Família, programa do governo estadual, criado em 2004 e que tem ajudado milhões de adolescentes ao longo de 15 anos de existência.

Contudo, recentemente, esse valioso programa tem sofrido cortes significativos de verbas, o que demonstra o descaso com a criança e o jovem pobre da periferia. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, assinada pela jornalista Laíssa Barros e datada de 17 de abril de 2019, o Programa Escola da Família sofreu um corte de 46,5% nas bolsas de estudos para universitários em 2019. Das 10 mil bolsas, com valor mensal de R$ 500, somente 5.360 foram concedidas nesse ano. O governo alegou, que com isso, economizou milhões de reais e isso é verdade. Porém, essa falsa economia cobra da sociedade um preço bem salgado mais adiante, quando milhões de jovens, deixados à própria sorte, passam a percorrer o caminho da delinquência, por não terem acesso a atividades educativas. Será que a população de bairros ricos deixariam o governo retirar-lhes o pouco que tem sem “abrir o bico”? Isso é algo a se pensar, antes que alguém pense e decida por nós. 

Só crescemos como seres humanos se nos confraternizarmos e buscarmos nossos direitos pacificamente, mas, com a certeza de que estamos sendo cidadãos e buscando o melhor para nossas comunidades.

Por Edmauro Meireles